[RP FECHADA] ❝ Candies, candies and more candies, please! ❥

Meus passos ficavam cada vez mais rápidos enquanto o tempo passava, até o momento que olhei o relógio em meu pulso e percebi que se não corresse iria me atrasar. E chegar atrasada poderia ser um desastre. Poderia imaginar Nina me esperando, se distraindo com alguma coisa e saindo esquecendo-se completamente de nosso encontro. Bem, não era um encontro em si, apenas uma ida à sorveteria naquele dia quente. Acelerei meus passos a ponto de quase estar correndo, passando e desviando dos semideuses e até mesmo seres da natureza que passeavam pelas ruas da Vila Olimpiana.

Quando cheguei enfim a sorveteria parei arfante e buscando uma garota loira um pouco mais baixa do que eu. Anita não estava lá dentro e nem do lado de fora, o que me fez soltar um grande suspiro de alívio. Ajeitei rapidamente a minha blusa e encostei-me à parede da sorveteria, iria espera-la do lado de fora. Sabia que poderia ter sido uma preocupação a toa, Nina poderia se atrasar por ter se envolvido com algo, afinal de contas aquela loirinha hiperativa e cheia de curiosidade vivia fazendo coisas, mesmo que infantis. Deixei escapar um sorriso ao pensar nisso, afinal não era por isso que eu gostava dela?

Minha maior vitória foi que, apesar de toda a guerra, consegui cuidar e proteger a filha de Íris. Não queria que ela se machucasse ou visse o lado feio de uma batalha, temia que ela perdesse o lado inocente e divertido. Talvez fosse algo super protetor de minha parte, mas... Sempre foi apenas eu e Nina, claro que havia as outras meninas, mas éramos, sem sombra de dúvidas, mais unidas. Como amigas, evidentemente. Cruzei meus braços e fiquei cantarolando uma música em minha mente enquanto a aguardava pacientemente.

Soltei um suspiro enquanto ainda esperava. Olhei mais uma vez para meu relógio na vã esperança de que o tempo passasse um pouco mais rápido, afinal Nina parecia que chegaria um pouco mais tarde. Cogitei a possibilidade de tomar um sorvete enquanto a esperava, mas sabia que ela iria brigar caso descobrisse que eu não a esperei e tomei primeiro. Dei de ombros e já ia encostar a cabeça na parede quando tive a sensação de que algo me observava. Como um instinto do sexto sentido, virei um pouco meu corpo... Para deparar-me com uma eufórica e serelepe Anita. Ela gritou “bu” e praticamente jogou-se encima de mim. Tive de recuar alguns passos para não perder o equilíbrio enquanto de modo automático uma de minhas mãos seguravam a cintura dela para que não caísse. O corpo dela ficou bastante perto do meu e eu tive de lutar para que meu rosto não corasse, mantive o meu controle e abri um sorriso ao vê-la tão feliz e já pedindo doces.

-Uma coisa de cada vez, Nina – disse usando aquele meu costumeiro tom protetor – Você pode acabar passando mal, sabia?

Segurei em seus braços e me afastei antes que aquela proximidade quebrasse meu autocontrole. Afinal de contas não era segredo nenhum para mim o que eu sentia por aquela loira. Apesar de que na mesma forma sabia que era impossível. Nina era inocente demais para notar os meus verdadeiros sentimentos e por muitas vezes achava que era melhor desse jeito. Assim que me afastei, vi o inicio de um bico se formando nos lábios dela e logo tratei de por uma mão em sua cabeça e bagunçar um pouco seus fios loiros.

-Vamos entrar? – chamei com um sorriso de canto.

Novamente ela se iluminou, peguei em sua mão e a guiei para dentro da sorveteria. Por sorte estava quase vazia. Caso estivesse cheia, sabia que muitos, senão todos, lançariam um olhar em nossas direções. Seja apenas para admirar a Nina que era muito bonita ou para reparar em nossos estilos contrastantes. Quanto à primeira opção, eu mesma estava tendo muita dificuldade em prestar atenção nas outras coisas, Nina poderia ser inocente, mas vestia-se muito bem de forma a atrair os olhares para si mesmo que seu propósito não fosse esse. Balancei a cabeça de um lado para o outro e segui para uma mesa livre, sentando e esperando que Nina fizesse o mesmo.

-Acho que vou começar com um milk-shake de morango com calda de chocolate – falei pensando em voz alto.

Eu não precisava esperar ela falar pra saber que o seu pedido seria um sorvete de passas ao rum.

O som da cachorrinha entrando chamaria a atenção de qualquer um, tanto pelo seu tamanho quanto pelo seu latido alto e fino. Olhei para Nina perguntando-me como ela podia ter esquecido a Hallie do lado de fora. Revirei meus olhos, abaixei meu corpo e peguei aquele pequeno animal peludo, a colocando no colo e encarando com uma expressão que era um misto de tédio e deboche.

-Como você está viva até hoje? – perguntei e arqueei uma sobrancelha – É mais forte do que eu esperava pelo seu tamanho.

Hallie, a pequena cadela, latiu como resposta e abanou o rabo enquanto tocava a pata em minha coxa em um claro pedido de carinho. Acariciei lhe a cabeça com um principio de sorriso no lábio, distraindo por apenas alguns segundos, afinal a atendente logo chegou. Com nossos pedidos. Eu podia ver os olhos de Anita brilhando como os de uma criança, mesmo que de criança ela nada tivesse além do espírito. Peguei o meu copo alto cheio de milk-shake e bebi um pouco enquanto com uma mão ainda acariciava a Hallie.

-Ela ainda continua pequena – comentei me referindo à cachorrinha – Quando eu a dei para você mais parecia um ratinho, pelo menos agora está fofa.

Levei o canudo aos lábios e virei à cabeça para olhar para Nina. Como estávamos em um sofá com o formato de U, não me restara opção além de sentar um pouco perto dela. Não queria ficar afastada mais do que já estava, por causa desses malditos sentimentos. Sabia que as coisas estavam mudando aos poucos, mas em minha mente era melhor ter Anita como amiga do que como alguém me odiando... Por amar. Ainda assim era difícil ficar distante, a afastar quando estava próxima por tempo demais. Não me incomodava, de fato gostava de seus abraços surpresas, mas... Gostava até demais. Isso me colocava em uma confusão que mal poderia por em palavras. Ficava me perguntando o que ela achava disso tudo, principalmente depois do incidente da arena, em que ela me viu em um momento inusitado e inesperado até mesmo para mim. Eu não pensei que a Kamila fosse me dar um beijo.

Era como se nada tivesse acontecido. Sempre foi fácil fazer Anita rir quando se sabia o quão serelepe era a sua personalidade. Eu adorava o riso sempre sincero dela, mesmo que fosse provocado por uma coisa boba, Nina sempre ria quando tinha vontade e sem se preocupar. Voltei a tomar um pouco de meu milk-shake, ele já estava na metade... Quando o sino que ficava sobre a porta para anunciar os clientes ressoou no ambiente. Era aquele momento em que por alguns segundos o seu corpo fica paralisado sem acreditar no que estava vendo. Estava indo tudo tão bem! Mas Kamila apareceu na sorveteria. Meu rosto começou a esquentar, mas respirei fundo para controlar-me. Mesmo que eu não tivesse retribuído ao beijo, ainda assim não mudava o fato de que foi um beijo, mesmo que roubado. Kamila era uma filha de Apolo que me chamou para treinar nesses últimos dias, ela queria aprender a luta corporal para não depender tanto do arco e flecha. Eu não tinha visto nada demais em ajudar alguém, ainda mais depois da guerra que tivemos no terreno americano. Fui ingênua ao acreditar na boa vontade daquela garota de cabelos castanhos ondulados e olhos esverdeados.

Porém o mais peculiar daquele momento foi a reação de Anita. Ela se afastou quase que automaticamente, tão evidente em seu incomodo que me fez arquear a sobrancelha. Vivemos anos juntas, era difícil não ter memórias em que aquela menina loira não estivesse presente. Era quase que evidente a preferência da filha de Íris por garotas, mesmo que ela não soubesse. Então o que estaria acontecendo com ela para estar agindo dessa forma? Raiva ou... Ciúme? Foi então que por puro impulso, e eu geralmente não ajo por impulso, abri um sorriso para Kamila e acenei. Ela acenou de volta com um exuberante sorriso, digno de uma filha do sol e piscou um dos seus belos olhos de uma forma sedutora. Quando tornei a olhar para Nina ela estava... Diferente. A semideusa pegou suas coisas sem dizer uma palavra e começou a sair sem nem ao menos dizer nada para mim.

-Hey, Nina! – exclamei e já estava levantando, mas tinha de pagar os sorvetes. Resmunguei para mim mesmo, peguei o dinheiro do bolso e joguei ali de qualquer jeito sobre a mesa – Espera Nina! – mas o som do sino denunciava a saída dela, além dos latidos da Hallie que a seguia.

Sai praticamente correndo da sorveteria e ao sair olhei de um lado para o outro até encontrar os longos cabelos loiros passando rapidamente pela rua. Respirei fundo preparando-me psicologicamente para as novidades que Anita estava exibindo. Ela nunca agiu assim, quando estava contrariada encolhia-se, fazia bico ou birra. Mas fugir sem dizer nada? Ao menos ela não se esqueceu de pegar os seus sorvetes! Isso poderia acalmá-la de alguma forma. Comecei a segui-la, mantendo uma distancia entre mim e ela, mas que fosse o suficiente para que ela me escutasse.

-Anita, espera – pedi tentando manter um tom calmo e não irritado – Me conta o que aconteceu? Porque saiu daquela forma?

Ela finalmente parou. Soltei um suspiro quando a vi sentando em um dos bancos... E fiquei completamente séria ao vê-la tomar o sorvete com um jeito tristonho. Eu teria culpa por esse seu estado? Uma coisa era Anita estar triste por algum motivo bobo, por simples birra... Outro era eu ter desencadeado aquele tipo de emoção nela. Balancei a cabeça de um lado para o outro tentando afastar a culpa de mim, não iria permitir que tal sentimento se apoderasse de mim. Não sem descobrir o motivo. Então me aproximei e sentei ao seu lado, Nina pareceu ignorar-me e isso causou um leve aperto no peito, até que ela finalmente respondeu. Soltei o ar como se estivesse cansada ou abatida. Não era assim que eu era, normalmente teria dado um peteleco na loira e feito qualquer coisa para fazê-la pensar em coisas felizes. Mas ali era um dos raros momentos em que me encontrava sem saber o que fazer. Maldito fosse aquele beijo.

-Nina – chamei com certa hesitação na voz, virei meu rosto para o dela esperando que ela me encarasse. Mas a bem da verdade Anita parecia querer estar em todos os lugares, menos ali. Segurei e sua mão e a puxei em minha direção pedindo um pouco de atenção – Anita! Olhe para mim.

Foi um dos meus erros pedir que ela fizesse isso. Aquele era o único ser do mundo capaz de me desarmar de todas as formas possíveis, por aquela garota eu poderia fazer qualquer coisa, desde que ela continuasse sorrindo para mim. Por mais que eu fosse a mais madura, a responsável e por vezes a chata... Era Nina que tinha poder sobre mim e não o contrário. Assim, quando ela fitou-me com aqueles olhos azuis irritados pela situação era como um golpe na boca de meu estômago.

-Desculpe – pedi encolhendo os ombros, mas me recusando a soltar a mão dela, chegando até mesmo a entrelaçar nossos dedos – Eu... Hum, precisamos conversar – pigarreei para conseguir manter uma linha de raciocínio – Você não gostou da Kamila ter me beijado, não é? Mas foi ela que me beijou, não eu!

Aquela não era típica de minha Nina. Sim, de certa forma minha, porque eu a conhecia melhor do que ela mesma! Mesmo que ela não tenha digo diretamente, ela estava sim incomodada, chateada. Parte disso era culpa de minhas atitudes que foram interpretadas de forma errada. Mas como ela poderia saber que eu estava me afastando por não conseguir ficar perto sem ter essa vontade absurda de abraça-la, beija-la e dizer que era só minha? Que eu... Que eu a amava com todas as minhas forças. E era essa mesma vontade que tomava conta de meu ser naquele momento, abafando qualquer razão de meu raciocínio. Assim quando a vi tomar o sorvete e resquícios daquele doce gelado ficar depositado no canto dos lábios dela, não resisti como deveria. Inclinei meu corpo e sem deixar brechas para que Nina recuasse, minha língua logo tocava aquele ponto, lambendo o sorvete melado de forma até lenta e discreta. Anita parecia ter parado de respirar, o coração dela batia tão forte que seu rosto ficara levemente avermelhado e eu podia jurar escutar as batidas.

-Um beijo... – murmurei para mim mesma, sem imaginar que havia mesmo verbalizado o pensamento.

Fechei os olhos e selei minha boca a dela. Nenhum pensamento coerente transpassava a minha mente, meu coração parecia estar tão acelerado quanto o dela antes. Eu a estava beijando! Depois de tantos sonhos e cogitações sobre como seria o nosso primeiro beijo, ali estava eu sentido aquela boca macia pressionada contra a minha. Suspirei fraco contra os lábios dela, fechando meus olhos e ignorando qualquer chance de bom senso naquele momento. Aquele era o nosso primeiro beijo... Assim como poderia ser o último, era apenas dessa lógica que eu precisava para começar a mover meus lábios sobre os dela. Minha mão tocou delicadamente o rosto de Nina, deslizando os dedos em um roçar sutil pela pele até encontrar o pescoço e ali pousar minha mão. O beijo era lento, cálido e cheio de carinho, até mesmo nas mordidas que eu dava nos lábios dela. Eu a amava tanto que era impossível não transparecer isso em um toque tão íntimo, reservado apenas para aqueles que se gostavam romanticamente. Mas nada durava para sempre, mesmo que meu coração agora batesse emerso em uma angústia, afastei nossas bocas finalizando com um suave e delicado selinho.

-Um beijo entre garotas – falei devagar, finalmente mirando meu olhar ao dela, afastei o meu corpo um pouco para não cair na tentação de beijá-la novamente – É assim, Nina.