[RP Fechada] Let's the bastard sing

Meus olhos se perdiam na escuridão da floresta, tentando assimilar as sombras e vultos que estavam por todo lado. Não devia estar andando ali naquele horário. Mesmo sendo um seguidor de Éris e residindo atualmente em seu castelo, as regras do acampamento ainda se aplicavam a mim nas raras ocasiões em que o visitava. Se fosse pego por uma Harpia, viraria lanchinho dela – mesmo que não fosse muito difícil mata-las – e se Quíron me pegasse, daria alguma punição besta, como lavar a louça durante uma semana. As duas coisas eram ruins; principalmente a segunda, por isso andava cautelosamente pela floresta. Sempre que escutava o som de algum galho se partindo ou de folhas se movendo, parava, olhando para os lados e esperando alguém aparecer. É claro que nenhum campista iria aparecer ali de madrugada, mas não era exatamente com isso que me preocupava. E sim com os monstros. A floresta em qualquer horário do dia, mas durante a noite as coisas ficavam um pouco mais complicadas. Monstros mais perigosos apareciam, sabe-se lá da onde, procurando presas. Na maioria das vezes pegavam animais pequenos, mas já tinha ouvido história de campistas que foram devorados por monstros enquanto caminhavam pela floresta. Não queria ser um deles.

Parei numa clareira, olhando em volta para garantir que não tinha nada por perto e sentei no chão. Levei as mãos até o rosto, passando os dedos pelos machucados que tinha ganhado recentemente. Zachary. Não podia visitar o acampamento nenhum dia sem dar de cara com ele, e nosso último encontro tinha passado um pouco dos limites. Fura sincero demais em relação aos meus recentes sentimentos por ele e Netuno - ou Poseidon, como ele o chamava (os dois eram idiotas) – e ele acabou vindo para cima de mim. Não tinha conseguido resistir, e isso era o que mais me frustrava. Era imponente em frente a ele. Menos experiência, movimentos mais lentos, mais fraco, reflexos lentos, meus poderes não o afetavam. Zachary sempre fora superior a mim. Franzi os punhos, como tinha feito no último encontro. Não deixaria Zachary me tocar. Nunca mais. Nunca mais perderia uma luta. Nem para meu gêmeo e nem para ninguém. Os machucados inchariam, mas depois sumiriam. Diferente dos que eu causaria nele. Iria mata-lo, e ninguém me impediria. “Logo, meu irmão... Logo.” E então o som de um graveto se quebrando me trouxe de volta para a realidade. Alguém – ou alguma coisa – estava ali. Levantei num salto, minha mão deslizando até o bolso da minha calça jeans onde estava o relógio de bolso, enquanto meus olhos saltavam de um canto da floresta para o outro. – Quem está aí? – Perguntei estupidamente, num tom alto. Duvidava que alguém fosse responder, mas era melhor perguntar. Mesmo se fosse tivesse de lutar depois.

This is my kingdom come... ☠

Respiro fundo sentindo o agradável e conhecido cheiro da noite. As horas sombrias são as que mais me agradam. Sinto-me revigorado, mais forte e mais completo. A solidão e o silêncio são os meus eternos companheiros. Estou a admirar o céu noturno. Apesar da sensação de que estou sendo observado, é muito bom olhar para cima e contemplar os milhares de olhos que o céu negro possui. Como de praxe, assim que o ponteiro do relógio marca 23:50, equipo-me com meus presentes de reclamação e vou para a floresta. Às vezes saio em busca de uma aventura, às vezes vou simplesmente pra admirar a beleza do local. Dizem que é perigoso e que há muitos monstros, mas a maioria das histórias não passam de lendas inventadas para assustar os novatos. Eu não temo a escuridão e nem os monstros porque eu pertenço ao submundo e faço parte dessa categoria de seres das trevas.

Já conheço toda a floresta como se fosse um membro do meu corpo. Todos os locais, sem exceção. Posso andar de olhos fechados e ainda assim não me perderei. Mas, claro, não farei isso. Porque às vezes, raramente, há semideuses perigosos andando pela floresta. Já lutei contra alguns e não são agradáveis. Tenho o Bosque Perdido como meu local favorito. Já fiquei sabendo de várias histórias de que semideusas desapareceram, mas nunca presenciei tais acontecimentos. Acredito que são apenas boatos usados por aquelas que querem justificar as safadezas que aprontam no escuro. Tento sempre andar silenciosamente, misturando-me às sombras, tentando não chamar a atenção dos seres pertencentes à floresta e aos "sub-locais". Mas nem sempre funciona.

Estou a ir em direção ao Bosque Perdido quando piso em um galho que não vi. A madeira seca se quebra e emite um estalo. Com certeza chamei a atenção de alguém e a confirmação chega logo em seguida. Uma voz ecoa pelo bosque com a bela frase clichê dita por personagens estúpidos em um filme de terror "quem está aí?". Interessantes que essas personagens fazem essa pergunta como se o assassino/psicopata/ladrão fosse respondê-las. E, como o semideus que fez a pergunta pareceu um personagem de filme, decido agir como o ser sombrio que está escondido.

Fecho os meus olhos por dois segundos me concentrando e visualizo uma sombra próxima ao garoto. Quando abro os olhos, sinto a conhecida sensação de mergulhar nas sombras. É algo bem diferente, variando entre o líquido e o sólido, quase semelhante a uma gelatina. Alguns segundos depois estou ao lado do semideus. Arqueiro uma sobrancelha e sorrio gentilmente para o garoto. Não sou muito de sorrir, mas me diverti com essa simples ação de teletransporte através das sombras.

▬ Sou eu... Não que isso ajude muito, já que você não me conhece. ▬ Minha voz soa firme e grave. Estendo minha mão direita para cumprimentar o garoto. ▬ Sou Nikolai... Nikolai Vrónski, filho de Hades.