[RP FECHADA] Devil's Trap

Devil's Trap

Meus últimos dias no Acampamento Meio-Sangue vinham sendo repletos de tédio, mesmice, e mais tédio. Desde o choque de realidade que passei durante a chegada, fui submetido apenas a tarefas desinteressantes, repugnantes e exaustivas, de forma que, para mim, a melhor hora do dia era o final da tarde.

Antes da noite cair — e das malditas harpias virem fazer a vistoria — costumava me exilar numa área específica da praia, onde algumas dunas e uma formação rochosa formavam uma espécie de alcova, não muito profunda, mas o suficiente para me ocultar de olhos curiosos na maioria dos ângulos em que observassem.

Naquela tarde, eu me abrigava no esconderijo costumeiro, observando a maré ir e vir sem expressão alguma no rosto. Permaneci na mesma por um bom tempo, até que os ruídos e vozes distantes se acalmassem, e introduzissem o repouso de todo o acampamento.

Minhas mãos tatearam o casaco pesado que eu vestia. Apesar do calor, nunca abria mão dele, e do que ele carregava. Abri um sorriso maroto ao sacar um pequeno sachê de plástico de um dos bolsos internos. Remexi o pó branco que preenchia o recipiente antes de violá-lo, derramando o conteúdo na pedra lisa que anteriormente abrigava minha cabeça. Usei os dedos canhotos para formar uma carreirinha quase perfeita na pedra, enquanto a mão esquerda protegia a cocaína da brisa.

Tomei fôlego e me curvei sobre a pedra, obstruindo uma das narinas enquanto a outra tratava de aspirar todo o pó. Voltei a endireitar a postura, esfregando o nariz antes de puxar uma boa golfada de ar por ele. Feito. A sensação não demorou a vir: uma leveza tomou meus membros, somada a uma euforia que aquecia-me o peito. Extasiado, senti-me na condição de derrotar qualquer um que ousasse me desafiar.

Voltei a olhar a maré, dessa vez com novos olhos. Os olhos de Solomon Colt. Daquele que costumava conquistar a adoração de qualquer um. Daquele que fazia bater mais forte os coração das garotas. Daquele que despertava risadas e fazia loucuras que impressionavam os mais radicais. Esse é o Solomon que eu gostava de ser.

O vento matutino chacoalhou minhas madeixas, obrigando-me à semicerrar os olhos para evitar os resquícios de areia que se desprendiam do solo. Minha chegada até o acampamento havia me retirado de uma fase esplendorosa de minha jornada solo, obrigando-me à reter todo o sucesso anteriormente obtido; de alguma forma, aquele local me deixava enjoado: fazia questão de me lembrar que cada dia ali era um martírio. A praia mostrou-se um refúgio sórdido, para que em meio à devaneios, os problemas fossem desligados de uma forma tênue, ou pelo menos, eficiente o suficiente para me afastar de todos os pensamentos vagos que poluíam minha consciência com sua densidade negativa. Talvez as espuminhas que preenchessem a água límpida, ou a maré que insistia em subir, outrora rasa, outrora tão funda como um oceano — talvez uma metáfora da minha vida: hora boa, hora ruim... hora insuportável. O fato é que o âmbito acalentador da praia tornava tudo mais fácil, revigorava e contribuía para manter meu intelecto são, ou pelo menos controlados, na minha concepção.

Costumava divagar nos primeiros dias: lembrava-me do corpo febril de Zachary deslizar por cima de mim, afundando-me no colchão circular à ponto de me arrancar suspiros profundos — com o tempo os frenesis se afastaram, e a imagem de Zach se tornara apenas uma lembrança passada: um reflexo de um futuro que me fora privado por uma mãe-divindade. Azar o meu, de quando pensar que tudo estava resolvido, descobrir ser prole de uma Deusa Grega... Quem diria, não? O jovem oportunista do Texas, ou para alguns o "coitadinho estuprado por um empresário", estava trancafiado no próprio egoísmo, destinado a corroer o próprio corpo dentro da negatividade e azar que o Acampamento Meio-Sangue estava destinado a lhe oferecer.

Uma figura mostrava-se estranha no ambiente. Um rapaz ranzinza, o semblante carrancudo e os braços robustos abraçando o próprio corpo enquanto observava as ondas chicotearem a areia. Sorri, admirando seus fios castanhos se modelarem à face esbranquiçada — embora maculada —, conforme o vento lambia seu rosto. O âmago febril do sol poente revelava sua silhueta impecável: tanto pelo físico como pelo porte de altura e músculos: estes, apertados sob a blusa de manga longa e a bermuda casual. Confesso que senti um calor subir pela espinha, fazendo meu corpo ser tomado por um tesão impulsivo. Podia imaginar o calor de seu corpo tocar minhas mãos ao fechar os olhos, me livrando dos pensamentos eróticos ao sacudir a cabeça, meio grogue.

— Acho que nunca te vi por aqui, cara... — me adiantei alguns passos, revelando minha presença enquanto copiava o ato do garoto, cruzando os braços ao redor da barriga — Vejo que não sou só eu que procura o aconchego do mar para refletir um pouco —, sorri, exibindo a fileira de dentes brancos com cordialidade. Mordisquei a ponta do lábio ao desfazer o sorriso, ainda tomado pelo desejo carnal.

Mantive o olhar desfocado por um bom tempo, distinguindo apenas os tons berrantes do ocaso. Um sorriso bobo brincava em meus lábios finos, quando o som de passos erguendo areia me tirou do transe. Sacolejei a cabeça de leve, acompanhando a aproximação do desconhecido.

O garoto magro caminhou em minha direção, e, instintivamente, umedeci os lábios secos pelo vento morno, cruzando os braços firmemente diante do peito, tentando parecer mais seguro de mim mesmo, o que era parcialmente verdade. Permaneci assim, até que ele falou.

— Acho que nunca te vi por aqui, cara... — ele estava muito perto, então endireitei o corpo, assumindo uma postura mais ereta e rígida. — Vejo que não sou só eu que procura o aconchego do mar para refletir um pouco. — menos mau. Ele não iria me denunciar, afinal. Tomei fôlego e empinei o queixo, estreitando ligeiramente os olhos.

— Certo, cara, mas quem é você? — ergui uma das sobrancelhas ao entoar o ponto de interrogação, baixando o olhar para avaliar melhor o que meu organismo afetado pelas substâncias químicas não me deixara notar anteriormente. Apesar de magro, o garoto possuía sua beleza própria, suficiente para atrair minha atenção.

Voltei a encará-lo rapidamente, para não parecer algum pervertido, acentuando as sobrancelhas como quem lhe cobrasse uma resposta.

O garoto me parecia um pouco torpe — narcóticos: explicavam o olhar avermelhado e o nariz levemente rubro. Drogado? Que ótimo... Aquilo tudo seria mais fácil do quê eu imaginava. O vento poente começava a se tornar mais violento à medida que o sol ia assumindo uma tonalidade mais alaranjada e fosca, denunciando o final de tarde consagrado pelo clima tropical. De alguma forma me sentia observado ali: talvez o olhar frio de Hécate pairasse vez ou outra sobre seus filhos, e isso me provoca calafrios.

— Ah, perdão... Meu nome é Jasper, e o seu? — estreitei os olhos, focalizando explicitamente a região volumosa do shorts de Solomon; outrora feito o "check-up", meus olhos volveram na direção do garoto. Aproveitei a deixa para me adiantar mais alguns passos, me livrando dos chinelos para enfim sentir meus pés tocarem a areia macia e acalentada pelos resquícios de raios solares. Descruzei os braços enquanto ouvia a resposta de Solomon, me aconchegando sentado ao rés da maré, mesmo que a água conseguisse alcançar meus pés, esfriando-os com sua espuma congelante de correnteza.

— E então, Solomon? Você não me parece muito feliz... — girei o pescoço, tentando tomar visão do garoto. Nossa proximidade era aparente, e me aproveitei da situação para voltar a analisá-lo, minunciosamente — Se isso te conforta, também não gosto muito daqui — repuxei os lábios num sorriso cordial, estendendo os dois braços para trás afim de obter uma visão do céu; o corpo reclinado entre a areia e a visão privilegiada de Solomon.

— Não vai sentar? — franzi o cenho, tentando dissimular um semblante confuso. Cinismo era algo fundamental num ambiente hostil; abater um cordeiro exige um bom pastor: treinado para trazer o prazer, e só então, dar o bote. Notei um cigarro escapar do bolso da bermuda de Solomon, fisgando-o ao exibir um sorriso de falsa reprovação — Nã, nã, nã... Que coisa feia, rapaz... — brinquei com o cigarro, deixando-o deslizar pelos dedos enquanto o olhar permanecia fixo em Solomon, atento e vulgar.

Ouvi-o perguntar meu nome, mas minha atenção estava perdida em seu olhar ávido, que lia a mim com algum desejo implícito. Pestanejei, rogando para que meus olhos não estivessem vermelhos como geralmente ficavam após o uso da droga. Com um breve espaço de tempo de atraso, respondi, soando meio atrapalhado.

— Colt. Digo, Solomon. — desviei o olhar rapidamente, recriminando-me silenciosamente, mas logo voltei a encarar aqueles olhos que me devoravam. Respirei fundo, impondo mais firmeza na voz grave. — Colt é o sobrenome.

— E então, Solomon? Você não me parece muito feliz... Se isso te conforta, também não gosto muito daqui. — notando-o cada vez mais próximo, fingi não importar com a invasão, apenas dando de ombros. — Não vai se sentar?

Sem argumentar, voltei a me sentar na areia, esticando as pernas abertas de modo desleixado. Simulei a remoção do casaco, aproveitando para esgueirar a mão direita até um dos bolsos internos. Ao colocar a peça de lado, larguei um baseado caseiro na areia, fazendo parecer acidente.

Deixei o olhar curioso de Jasper encontrar o cigarro, contando que ele o pegasse, como foi feito, de modo brincalhão. Tornando a sustentar seu olhar, formei minha melhor máscara de surpresa e culpa, mexendo a boca silenciosamente antes de pronunciar numa gagueira repentina.

— Is-isso não é m-meu. — fiz menção a pegar o cigarro de suas mãos, esperando por uma reação satisfatória por parte do garoto.

Interrompi o movimento de Solomon ao trocar o cigarro de mão, impedindo-o de capturar o objeto. No mesmo encalço, retirei um isqueiro do bolso com ajuda da mão livre, sacudindo-o diante dos olhos do rapaz antes de ricar o polegar sobre sua extremidade, automaticamente gerando uma fagulha que dá início à queima da nicotina — Achou que eu estava despreparado? — atirei o isqueiro na direção de Solomon, supondo que haveriam mais cigarros de onde havia saído aquele. Revirei os olhos, tamborilando os dedos na areia.

Traguei as nuvenzinhas de fumaça, assoprando-as diante do rosto de Solomon; um sorriso malicioso moldado nos lábios enquanto os olhos varriam o semblante do rapaz. A maré gradativamente invadia a praia, inundando algumas regiões mais rasas conforme os respingos d'água voavam em todas as direções, inclusive na que o garotos descansavam. Bufei, encaixando o cigarro entre os dedos para fazê-lo escapar dos respingos, voltando a assoprar a fumaça — desta vez para o alto, mergulhado num rápido devaneio.

— Qual seu parente divino, Solomon? — permaneci com o queixo suspenso, observando as formações bizarras que as nuvens confeccionavam no céu — Aliás, você não tem um apelido? Solomon soa tão formal... — balbuciei entredentes, voltando a encaixar a extremidade do cigarro entre os lábios. Podia sentir meus pulmões se irritarem com a quantidade exorbitante de gases invasores que dificultavam sua operação, contendo à tosse para não revelar uma aparente fraqueza.

— A água parece estar ótima... — volvi o olhar na direção do mar, ignorando os respingos que hora ou outra ousavam pousar em meu rosto — Acho que vou dar um mergulho, cara — levantei num salto, espalmando o shorts para livrá-lo dos grãos de areia; por conseguinte, estendi a mão na direção de Solomon, tomando o ato como um convite.

Meus braços voltaram a se cruzar no peito, após a evasiva de Jasper. Observei-o acender o baseado, e tragá-lo, sem deixar de lado aquele olhar amolecido de culpa. No momento em que ele soprou uma baforada de fumaça contra meu rosto, voltei-o para a direção oposta, aproveitando a brecha para relaxar a expressão com um sorriso de canto, triunfante.

Rapidamente, voltei a me mascarar com aquela cara de bom-moço, encarando meu novo colega, que já voltava a se pronunciar. Questionou-me a respeito do meu parente divino, o que não me demorei em responder.

— Dionísio. — minha voz soou embargada, exatamente como queria fazer parecer. Ajeitei a calça cáqui na região íntima, aparentando um gesto voluntário, quando, na verdade, só queria mais atenção naquela área do meu corpo. Ele continuou falando, cobrando-me um apelido. — De onde eu venho me chamavam de Colt, ou... — pausei, agitando a cabeça ligeiramente. — Colt, só Colt.

— A água parece estar ótima... Acho que vou dar um mergulho, cara. — Jasper dizia, enquanto se levantava. Ofereceu a mão num gesto convidativo, o qual aceitei, forçando um olhar de receio. Um vez de pé, despi a camiseta preta lentamente, jogando-a junto ao casaco, na areia. Sacudi os cabelos despenteados pelo ato anterior, e corri de encontro à maré, ainda trajando a calça neutra.

Refreei os movimentos quando a água já me cobria até os joelhos, espreguiçando exageradamente antes de alongar o corpo por completo, e me lançar num mergulho perfeito em direção ao horizonte.

Observei os movimentos de Solomon ao se despir, mordiscando o lábio após ter o deslumbre de seu porte físico desnudo, apenas com o pudor da calça; maldita calça, aliás. Revirei os olhos, copiando os movimentos do garoto ao me livrar da regata branca, jogando-a na direção da blusa de Solomon enquanto apressava os passos na direção do mar, já sentindo os pés formigarem pela cortina gélida da água: típica de uma maré poente. O frio me forçou a tremer o queixo, enquanto minhas mãos se ocupavam em massagear os braços; anteriormente havia me livrado do cigarro, junto à regata. Meus olhos acompanharam o trajeto de Solomon, que se envergou antes de lançar-se ao mar, num mergulho angular. Sorri para mim mesmo.

A calça cáqui possivelmente se tornaria transparente ao contato com a água, e quanto antes saíssemos dela, mais rápido teria o vislumbre do malote de Solomon; isso me alegrava, afinal, sempre ouvi boatos de quê os filhos de Dionísio costumam ser bem recheados. Afastei os pensamentos conforme a água alcançava minhas coxas, deixando meu corpo se curvar até estar totalmente na horizontal; afundando sob a água que gradativamente tornava-se morna, na minha sensação térmica. O garoto já estava longe, e alcançá-lo seria um problema se não me apressasse.

Perpassei as mãos em fortes braçadas contra a maré, nadando numa velocidade razoável na direção de Solomon, que já se encontrava boiando sob a superfície; as pernas se movimentando para manter o corpo do garoto submerso — Aarf... eaí, pequena sereia... Tenha piedade dos seres terrestres e nade mais devagar —, mantive a respiração ofegante até retomar o fluxo normal, já me adiantando para afastar os fios molhados do rosto.

Movi meus palmos na direção do rapaz, empurrando uma quantidade expressiva de água contra seu rosto. Deixei uma risada escandalosa fluir, repetindo o movimento incessavelmente até que o garoto voltasse a mergulhar sob a maré; vez ou outra movia os braços para trás, me esquivando das ondas violentas.

A água gelada contra minha pele quente e anestesiada pelas substâncias químicas produzia uma sensação alucinante. Nadei com destreza, distribuindo braçadas mar à dentro até que a profundidade me agradasse. Quando finalmente me estabilizei na água, agitando as pernas para me manter emerso, ouvi os resmungos divertidos de Jasper, que se aproximava, seguidos de uma torrente de água que me açoitou a cabeça. Voltei-me em sua direção, rindo gostosamente.

— Você é lento! — devolvi, e então armazenei uma boa quantidade de ar antes de submergir, nadando na direção de Jasper. Ergui-me bem diante dele, com um forte impulso, formando uma pequena onda que, à favor da maré, o forçou um pouco para trás.

Rindo-me, o persegui, constatando sua segurança apenas por me aproximar. Nadei ao seu redor até que ele se recompusesse, boiando de costas na água.

— Você não me disse de quem é filho... — falei, com a sombra do riso no rosto. — De Poseidon eu já vi que não é.

Sacudi as pernas, tentando me desvencilhar da torrente de água que partia em minha direção após a submersão ríspida de Solomon; notando sua aproximação enquanto prendia o fôlego, esperando que a onda formada se desfizesse ao alcançar outras de maior porte. Após sentir a movimentação da água se tornar serena, voltei à superfície, estando extremamente próximo do corpo do filho de Dionísio. Exibi um sorriso, erguendo o queixo para empurrar os fios molhados para trás, afim de livrar minha visão dos obstáculos.

— Quem sabe de Afrodite, hã? — impeli um ar de sarcasmo, elevando a sobrancelha esquerda para tornar o semblante dissimulado — Será que tenho o mesmo charme? — aproveitei a aproximação de Solomon e sua aparente entorpecência para deslizar a mão sob seu abdome, sentindo os gominhos rasparem em meu palmo. Um febril âmago sustentou meu corpo, erguendo um leve tom rubro contra minhas bochechas. Subi o olhar, deixando-o vagar explicitamente na direção dos lábios do garoto. Minha língua perpassou meus próprios lábios, umedecendo-os numa atitude inconsciente.

Talvez ser tão direto pudesse criar um problema. Um rápido flash de arrependimento me fez interromper o ato, simulando um possível desiquilíbrio que pudesse me ter feito buscar apoio no rapaz; sorri, deixando uma risada sorrateira escapar — Estou brincando, haha... Sou filho de Hécate — assenti, impondo uma nota grave na voz, afim de remedir as atitudes nada masculinas.

O sol poente emitia seus últimos feixes calorosos, e pouco a pouco a penumbra ia invadindo as águas turvas da praia. Sinal de perigo, que outrora me provoca ainda mais prazer. Prazer pelo desconhecido, prazer pelo perigo.

Omiti minhas reações diante dos gracejos de Jasper, mirando-o com um semblante inexpressivo à medida em que ele se aproximava. Seu toque me fez arrepiar de leve, forçando-me a vacilar na rigidez que eu fazia transparecer. Senti meu lábios se contraírem num sorriso rápido e involuntário, mas quase imperceptível.

Jasper tentou disfarçar seu rompante, mas eu já tinha conhecimento de sua intenções. Naquela altura, ele já era meu.  Fiz cara de dúvida, instigando-o a continuar.

— Sou filho de Hécate. — disse. Reconheci um ligeiro desconserto em sua voz. Mostrei-lhe um sorriso de incentivo, contando que ele prosseguisse, o  que não chegou a acontecer.

Talvez aquela fosse a minha deixa, e não dele. Estava anoitecendo, e alguma iniciativa precisava ser tomada. Fosse o que fosse, não me demorei. Anulei a pouca distância que ainda havia entre nós, passando os braços ao redor de sua cintura com a normalidade de quem faz isso o tempo todo.

— É mesmo? — fiz parecer que sua revelação fosse irrelevante, ao pronunciar junto ao seu rosto. Mexi os braços sob a água, descendo as mãos para o início da curva de seu traseiro. — Pois bem, "cara". — repliquei seu bordão com uma pitada de humor, antes de tomar seu lábios para mim. Penetrei-os com minha língua, logo de cara, convidando a de Jasper para dançar lento.

Fiz sua cabeça mover contrária à minha enquanto nossos lábio se roçavam, dobrando seu tronco para trás enquanto me curvava na direção dele. Estava ficando difícil nos sustentar acima da água, ainda mais com a maré que insistia em nos incomodar. Era hora de procurar um lugar mais reservado para nossa pequena festa.

Senti os braços de Solomon envolverem minha cintura, moldando um dissimulado semblante de surpresa. Conforme suas largas mãos deslizavam por minha cintura, abracei seu pescoço com ambos os braços, estreitando ainda mais a distância entre nós. Naquela distância, conseguia sentir o hálito fresco de Solomon lamber meu rosto, e sua respiração calma mesclar-se à minha de forma uníssona. Ignorei suas palavras, atento os seus lábios que se moviam de uma maneira extremamente sedutora; palavras que não duraram muito tempo, já que nossos lábios se selaram logo ao seu término. A língua de Solomon brincou em minha boca, e gradativamente desci minhas mãos sob seu corpo maculado, afagando desde seu peitoral até o último gomo de seu abdome.

O beijo se tornava cada vez mais caloroso, e a líbido de ambos, nesse momento, estava mais descontrolada que um carro desgovernado. Minhas mãos alcançaram o zíper da calça do semideus, e sem hesitar, puxei-o. O volume que antes preenchia o local agora saltava para fora, sendo massageado por ambas minhas mãos de forma extasiada. As ondas começaram a se tornar mais violentas, e nem mesmo o acalentador abraço do filho de Dionísio conseguia nos manter submersos: era hora de voltar para a praia.

A maré se encarregou de nos empurrar de volta para a margem, e nem mesmo o impacto de nossos corpos na areia foi capaz de desvencilhar o nó que haviamos formado. Empurrei o corpo de Solomon contra a areia, mantendo-me fixo sobre ele; as mãos deslizavam por seus braços fortes, arranhando-os de uma maneira cruel — Você está me deixando sem fôlego... — ofeguei, me livrando dos braços de Solomon ao sentir a respiração rareficar. Nesse momento pude sentir seu membro viril enrijecer sob meu traseiro, afinal, estava sentado sob seu corpo de uma maneira extremamente explícita.

Um sorriso se moldou em meu rosto, e os lábios avermelhados pelos chupões do rapaz voltaram a ser umedecidos por minha língua — Ops... acho que o gigante acordou, hein? — me inclinei sob o corpo de Colt, deixando que meus lábios vagassem pelo seu pescoço, desferindo suaves mordidas em sua derme gélida.

Durante o percurso que fizemos de volta à margem, mantive o corpo de Jasper colado ao meu, do mesmo modo em que fiz o possível para que nossos lábios permanecessem unidos naquele beijo tão delicioso. Desabei de costas na areia e senti os grãos grudarem em minha pele e cabelos molhados, mas não dei a mínima. Não enquanto aquele garoto continuasse sobre meu colo, me tocando daquela maneira. Liberei-o do enlace dos meus braços, deixando minhas mãos repousarem despudoradamente em seu traseiro.

— Você está me deixando sem fôlego... — protestou, e eu pude assisti-lo arfar sobre mim, com os lábios vermelhos pelo atrito constante ligeiramente entreabertos. Seu comentário seguinte, muito indiscreto por sinal, me arrancou uma risada rouca, que foi silenciada pelo toque de seus lábios em meu pescoço.

Novamente, envolvi a cintura de Jasper com os braços, e rolei com ele na areia até me colocar por cima, entre suas pernas. Tomei-lhe o pescoço com os lábios, assim como ele havia feito, mordendo e chupando num caminho até sua boca, a qual voltei a beijar demoradamente. Arrastei  uma das mãos até sua coxa, sem afastá-la um milímetro sequer de sua pele, usando-a para erguer sua perna junto ao meu flanco. Fiz pressão com o quadril em seu traseiro, esfregando meu membro recém desperto ali enquanto separava o beijo.

— Está tarde. Não podemos ficar aqui. — pronunciando com dificuldades pela respiração descompassada, refreei-me em minhas carícias, erguendo o tronco sobre Jasper. Àquela hora, a lua já havia reivindicado sua posição no céu enevoado, dando fim ao ocaso. — Vem comigo, vamos procurar um lugar mais reservado. — lancei-lhe um sorriso maroto ao me colocar de pé, ajudando-o a se erguer.

Juntos, recuperamos nossas roupas largadas ali perto e as vestimos, mesmo cobertos de areia. Caminhei na direção do centro do acampamento, acompanhado por Jasper, mentalizando um lugar propício para terminarmos o que havíamos começado.