[RP FECHADA] Behind These Hazel Eyes

"à nível fundamental, somos seres temporários." (Steins; Gate)

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Não escondi que fiquei feliz por ele ter aceitado o 'convite', mas também não fiz questão de deixar tão na cara que eu gostava de companhia. E não sei o porque, mas a dele, especialmente, parecia ter um efeito apaziguador. Andamos até chegarmos à praia, onde finalmente perguntei:

“Erm... você está vestido de que, exatamente? Desculpe a ignorância.” perguntei, meio envergonhado por não saber, enquanto bebericava um pouco do vinho. Era menos doce do que eu gostava, mas tudo bem.

O vento que assolava o lugar, como sempre fazia, não chegava com muita intensidade em mim graças à fantasia de couro que eu utilizava. Ele é mais alto que eu, percebi em certo momento, embora não fosse uma diferença de, digamos, 10 cm. Era bem pouco, como, só... tá... uns 5 cm. Ou menos. Provavelmente menos - ou ao menos eu queria que fosse.

“Aliás, qual o seu nome?” perguntei, antes que ele respondesse sobre a fantasia.

I used to stand so tall, I used to be so strong

Eu podia sentir a animação ele por ter aceitado seu convite para dar uma voltar, realmente aquela festa estava um pouco monótona. Enquanto andávamos em silencio até a praia, tomei um pouco da bebida que segurava, mas assim que chegamos o silencio foi quebrado quando o rapaz perguntou de quê eu estava vestido. Mas antes que eu pudesse responder, ele fez outra pergunta.

— Charles. – Virei o rosto para observá-lo e dar um sorriso de lado. – E o seu?

Continuamos caminhando devagar, sentindo a brisa marinha, quando lembrei que ele havia feito uma pergunta a respeito da minha fantasia. Ok, ele não deveria ser muito fã de quadrinhos por tar perguntando aquilo. Cara, todo mudo conhece o Red Arrow.

— Sério que você não sabe quem eu sou? Cara... Sua fantasia é mais desconhecida que a minha. Mas respondendo a sua pergunta, estou de Roy Harper, ou como é chamado quando usa essa roupa: Arqueiro Vermelho. Era o ajudante do Arqueiro Verde, tinha como codinome Ricardito. Mas quando deixou de ser ajudante para se torna um herói, adotou esse nome. – Respirei antes de voltar a falar. – Mas e você? De fato a sua não é muito conhecida. Pelo menos não por mim e pelo meu irmão que estava lá de Arqueiro Verde.

Tomei mais um gole da bebida enquanto ele respondia a ultima pergunta feita até o momento. Já estavamos um pouco distante da movimentação do acampamento, ali estava calmo e tranquilo. Parei e sentei onde estava, colocando o copo na areia, ao lado.

— Podemos? Essas botas incomodam demais. – Perguntei para saber se poderíamos sentar, embora eu já tivesse feito isso.

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Charles. Era um nome legal.

“Jamie.” respondi, olhando-o de soslaio. Bebi mais um pouco do vinho.

A resposta dele veio com aquele tom de "como assim você não o conhece", como eu sabia que viria. Bem, em toda a minha vida eu nunca fui fã de quadrinhos e afins; sempre preferi outras leituras. E também há o fato de que por ser semideus, sempre tive uma visão muito cética sobre super heróis. Pois nunca pude acreditar cegamente, tampouco poderia deixar de acreditar por completo na existência dos citados. Porque vivemos em um mundo louco, e há sempre alguns que se excedem - seja do lado "bom" ou seja do lado "ruim". Eu respondi à ele com um hmm meio desinteressado, e respondi a pergunta dele como respondi à do garoto no Chalé.

“Eu estou vestido de Celty Sturluson. Uma heroína dos "quadrinhos japoneses".” respondi, sentando ao seu lado assim que ele fez o convite retórico. Não estava cansado e por mim continuaríamos a andar, mas se ele desejava parar... sem problemas.

Eu emendei uma explicação sobre a minha fantasia, mais para retribuir as informações que ele havia me dado sobre a sua. “Eu gosto dela porque ela representa a existência. Fazer este pequeno tributo é como dizer: eu estou aqui e existo como qualquer um.” depois, virei-me para o mar, pensativo. “Às vezes é bom me lembrar disso.”

Meu tom de voz tinha adquirido um caráter menos vívido, mais triste, mas tendo percebido isso, dei um sorriso - o mesmo que dei quando ele me abordou - e olhei-o. Testei como seu nome saía com a minha voz.

“Charles. É um nome legal. Quem te deu, seu pai ou sua mãe?”

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Diferente da minha fantasia que foi de ultima hora, a dele possuía um significado para si. Achei aquilo interessante, já que mesmo sendo desconhecida ele foi mesmo assim já que ele gostava. Embora parecesse que eu não desse atenção, pois enquanto ele falava eu tirava aquelas botas que já estavam me incomodando há um tempão, escutei tudo atentamente. Movimentei os dedos do pé aliviado ao tirar as botas de vez e coloca-las ao lado. Aproveitei que já estava me desfazendo e retirei a máscara vermelha que cobria a região em volta dos meus olhos.

— Legal. Digo, ela ter um significado forte para você. – Olhei para ele, correspondendo ao seu sorriso.

Virei o rosto para olhar o mar quando ele pronunciou meu nome. Eu não sabia o motivo, mas aquilo me fez rir. Fiquei um tempo distraído com as ondas que se quebravam ao chegarem na areia, antes de responde-lo.

— Não sei te dizer. Digo, se foi minha mãe que escolheu antes de me abandonar com meu pai, ou se foi ele mesmo. – Continuava a olhar o mar. – E o seu? A propósito, você é filho de quem?

Foi quando virei o rosto para observá-lo melhor, sua aparência a verdade, talvez assim descobrisse seu parentesco divino. Ele era belo, isso eu não podia negar, mas ele não era filho de Afrodite. Digo, não que ele não fosse tão bonito quanto, mas é que geralmente sabemos quando é um filho ou filha da deusa do amor. Assim que fixei o olhar em seus olhos, senti meu rosto esquentar u pouco, o que significava que eu tinha ficado um pouco vermelho. Voltei a olhar o mar para distrair.

— Você é novo não é? Digo... Quando você chegou ao acampamento ele já estava aqui e não na América? Não lembro de você lá...

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Assenti quando ele fez o comentário sobre ela ser importante para mim. Pois sim, era. E olhei-o meio sem entender quando ele riu, logo após eu dizer seu nome. Charles olhava para o mar enquanto falava, e eu prestava atenção, por mais que não estivesse olhando-o.

“Mercúrio.” respondi, mas não perguntei sobre a sua ascendência. Ele era filho de uma deusa - só essa informação bastava.

Mexi um pouco os pés, e tirei as luvas que utilizava. Esfreguei uma mão na outra e as pus sobre meus joelhos, puxando estes contra mim. Olhei-o com a cabeça meio inclinada, logo após ele ter passado um tempo me olhando - sim, eu tinha percebido, e também percebi que ele ficara vermelho. Não muito, como eu costumo ficar, mas ficou. Tentei não pensar no que isso significaria, e me reconfortei no vento que fazia. Quando fui pegar o copo com o vinho, acabei me enganando de lado e minha mão foi de encontro ao lado do corpo dele, na altura do abdômen. Pedi desculpas e percebi que a pele dele era mais quente que o normal. Eu, mesmo como um Coração, não tinha nenhuma alteração na minha pele, ao menos ainda. Por isso pude sentir a diferença entre a minha e a dele. Demorei um pouco para responder, pois agora imaginava de que deus seria essa característica.

“Na verdade, não sou novo. Sou do outro acampamento, mas quando tudo aconteceu, eu estava com Quione. Não lutei naquela guerra.” respondi, o que me deu um certo arrepio. Pois lembrei-me de todas as histórias do acontecido. Eu tinha meus motivos para ter me relacionado com Quione, uma deusa grega, e eles orbitavam um certo princípio dos romanos com o qual eu não concordava. Ela entendera os meus motivos e me aceitara. Continuei: “Cheguei nesse novo acampamento há pouco, mas já o conhecia por alto.”

Expliquei isso olhando para o mar, mas tendo terminado de falar, fiquei silencioso por um tempo. Fechei os olhos pelo mesmo tempo em que fiquei calado, fazendo um exercício mental para esquecer certas coisas. E o olhei, sem saber o porque. Sem a máscara, ele ficava ainda mais bonito. E seus olhos, mais escuros que os meus, eram bastante expressivos.

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Então ele era romano. Eu nunca tinha conversado com um romano antes, já que romanos e gregos não se davam muito bem no passado. Mas agora o tempo era outro e eu podia perceber que ele não se sentia incomodado por estar na presença de um grego. Sim ,eu não sou bom em associar nomes dos deuses romanos com os gregos, então tive que perguntar.

— Desculpe-me se parecer um pouco arrogante, mas é que não sou muito bom com nomes romanos. Mercúrio equivale a... Apolo?

Foi o primeiro deus que me veio a cabeça, afinal, o deus do sol também é conhecido por ser um dos deuses mais bonitos. Enquanto observava o mar senti sua mão tocar a lateral de meu abdômen sem querer. Sorri de lado e balancei a cabeça enquanto falava que tudo bem, em seguida. Não era preciso ter nenhum poder especial para perceber que ele não gostava muito de falar do seu passado, que se sentia um pouco desconfortável com isso. Bebi o resto do vinho de meu copo antes de voltar minha atenção para ele.

— Hm, então você é seguidor de Quione? Tenho um amigo que é seguidor dela também. – Fiquei um tempo calado e então acenei com a cabeça em direção ao mar. – Água não é bem o meu elemento, mas não quer dar um mergulho? – Terminei a pergunta com u msorriso no rosto.

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Dei uma risada ao escutá-lo perguntar se Mercúrio equivalia ao Apolo deles, e tratei logo de explicar.

“Não, não. Mercúrio equivale ao Hermes de vocês.”

Tinha a leve impressão de que ele percebera que eu não gostava de falar do passado. O que eu realmente fazia. Mas havia algo nele que me impelia a falar, a me abrir... e essa característica... era de Vesta. Ou Héstia, na mitologia deles. Bem, talvez fosse isso mesmo, já que a mãe havia o abandonado. Assenti quando ele perguntou se eu seguia Quione, e iria perguntar quem era este amigo dele, para saber se o conhecia, mas como acabei hesitando, não tive a chance e fui pego de surpreso pelo seu convite.

“Ah... eu...” eu aceitaria tranquilamente, para dizer a verdade, mas a questão é que eu não estava com uma roupa nada boa para nadar. Então eu tinha duas opções. “Eu vou, desde que você vá primeiro e não vire para trás até eu entrar.”

E não, eu não ia fazer um skinny dipping.

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Certo, Hermes e Apolo não tinham nada em comum. Anotaria isso na minha agenda de anotações para não confundir mais. Dei uma risada baixa quando ele fez a proposta para poder aceitar o convite. Foi estranho o pedido, por um momento achei que ele fosse tirar todas suas roupas, mas acredito que ele não faria isso. Mas fiz o que ele pediu, levante-me e fiquei de costas para ele enquanto retirava as luvas que usava. Jogando-as perto das botas.

— Afs, que frescura. Eu também sou homem ta? O que você tem eu também tenho.

Não pude deixar de rir com o meu comentário idiota. Comecei a me despir devagar, o que foi um alivio eu confesso, aquela roupa colada já estava me deixando doido. Por fim, usava apenas uma cueca boxer preta da mesma cor da calça da fantasia. Ajeitei a roupa de baixo que usava e logo olhava rapidamente para trás para tentar ver o romano. Dando um risinho antes de começar a correr na direção do mar.

— Vê se não demora!

Entrei na água, que por ser noite, estava numa temperatura agradável, morna. Assim que cheguei onde a água batia em minha cintura, mergulhei nadando um pouco mais ao fundo e voltando a superfície logo em seguida. Agora estava submerso até o pescoço, ficando apenas com a cabeça do lado de fora. Me distraí um pouco, observando o reflexo da lua e das estrelas a água.

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Olhei-o meio atônito enquanto ele se despia sem pudor algum - ao menos aparentemente. Era para eu ser assim também, como os meus semelhantes romanos, mas como eu disse, nunca me dei bem com a conduta rígida deles. E nunca a aceitei como minha conduta - e ela envolvia a questão do pudor. Bastante.

Quando ele tirou a roupa e disse aquilo, não pude evitar que o sangue subisse ao meu rosto, me fazendo ficar corado. Então eu desviei o olhar, um envergonhado, e torci para que ele não visse. Porque quando eu fico vermelho, fico muito mesmo. Pareço até uma criança.

Então ele, hm, ajeitou a box preta dele e foi correndo na direção do mar, dando umas olhadelas. Esperei ele entrar na água e me despi, ficando também de boxer, embora a minha fosse branca e tivesse listras pretas na horizontal. Não corri até lá, embora tenha certamente apressado o passo. A água estava morna, à despeito do vento frio. Bem, eu não sentia frio, na verdade até gostava dele, então não tinha nada para reclamar. Não fui até tão longe - Charles estava com água até o pescoço -, permanecendo com água somente até o meu peito. O suposto filho de Héstia parecia meio perdido enquanto observava o ambiente.

Acabei dizendo:

“Sabe, eu nunca fiz uma coisa dessas.”

E a "uma coisa dessas", referia-me a entrar na praia com um estranho. Quer dizer, estranho é uma palavra muito forte que conota uma coisa mais forte do que realmente é, então substituamos o adjetivo pela locução: pessoa pela qual eu não tenho muita intimidade ainda. Por não ter pensado no que falei, olhei para os lado, ficando corado novamente, e submergi um pouco mais para tentar disfarçar.

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Há alguns meses atrás eu estaria correndo de monstros pela Europa, mas há pelo menos uma semana eu estava bem, ou melhor, em um lugar que sabia que estava seguro. Um lugar que podia chamar de casa. Estar naquela situação a espera do rapaz, me fez pensar em tudo que tinha acontecido antes da minha volta ao acampamento. Estava tão distraído em meus pensamentos que só percebi que ele já estava ali quando falou.

— O que? Nadar a noite? – Sorri ao perceber que ele havia ficado constrangido e tentou afundar seu rosto. Nadava até ficar próximo a ele. – Não se preocupa que não tem nenhum monstro aqui. O que há de mal entre um filho de Héstia e um de Hermes, ou melhor, Mercúrio nadando tarde da noite?

Dei uma risada não muito alta após prestar atenção no meu próprio comentário. Afundei por uns segundos e baguncei meu cabelo assim que voltei a superfície. Joguei um pouco de água na direção dele, apenas para perturbá-lo um pouco.

— Você é sempre assim? Quieto? Ou a minha presença está te acalmando demais? – O observei atentamente – Desculpe-me se for isso, mas é que não possuo controle sobre este dom.

but you won't get to see the tears I cry-y behind these hazel eyes.

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Balancei a cabeça negativamente para ele. Não era que eu nunca tinha nadado no mar no mar à noite, pois eu tinha, e tampouco era por ele ser um filho de Héstia (minhas suspeitas confirmadas), mas sim porque esta era a primeira vez que eu me sentia, de certa forma, mais quieto. E como não sei se ficou claro, eu não tenho muitas experiências na área da nudez (semi, no caso) - Charles, pelo contrário, demonstrara ao menos não ter a mesma vergonha que eu. É uma bobeira minha, sim, mas é algo do qual não consigo me livrar.

“Não é nada, não.” disse, evitando respondê-lo.

Ele estava descontraído, o que era bom. Eu não diria o mesmo de mim, ao menos não tanto quanto ele, embora fosse claro que eu gostava de sua companhia. Nunca fui dos mais agitados, o que era estranho à filhos de Mercúrio. Sempre fui mais pensativo e cauteloso na hora de fazer algo. E mais ignorante quanto às minhas próprias questões. De qualquer forma, Charles jogava água em mim, e eu logo revidava, dando uma risadinha, parando para olhá-lo por um tempo.

“Acho que sou, sim. A maioria das pessoas nem acreditavam que eu era realmente filho de Mercúrio. Era só me comparar com qualquer um de meus irmãos para ver a diferença.” respondi a ele, que também me observava. “E eu acho que não é sua culpa. Além de ser um poder inconsciente seu, eu até que gosto dessa calmaria.”

Então eu percebi uma série de contrastes bem aparentes entre mim e ele. Enquanto Charles era uma pessoa mais agitada (e qualquer um perceberia isso logo de cara), eu era mais calmo; enquanto ele era mais desinibido, eu era mais recluso; enquanto ele era mais moreno, eu era mais claro (e ponha claro nisso, quando se trata da minha pele); enquanto ele era mais alto, eu era mais baixo. E havia algo nisso que me fazia gostar de sua presença. Algo quase como uma vulnerabilidade minha.

Espero que ele não possa ler mentes. Ou os meus olhos, que por muitas vezes falavam mais do que eu mesmo.

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De fato ele era diferente dos outros filhos do deus, talvez por ele ser romano? Não sei, mas como ele disse, ele não é agitado como seus meio-irmãos. Isso era bom, pessoas agitadas demais perdiam o controle fácil das coisas. Sorri assim que ele acabou de falar, fixando o os olhos nos dele, que não sei se ele sabia, mas, pelo menos naquele momento, havia um pequeno brilho neles. Aquilo me fez sorrir ainda mais. Parecia que eu não sabia mais o que falar, já que havia ficado um tempo apenas observando-o, até que percebi que poderia o estar incomodando.

— E então... – Desviei o olhar para baixo. – Você não está com frio?

Não que eu estivesse, pelo contrário, eu não sentia frio. Mas caso ele estivesse eu poderia sair dali e fazer uma fogueira, sei lá. Infelizmente, ou felizmente, o cuidado com os outros era uma de minhas características mais marcante. Eu estava curioso sobre o rapaz a minha frente, não podia negar. Queria saber mais sobre ele. É lógico que poderia tentar invadir sua mente, ou ver seu passado com um toque, mas eu não queria força-lo a nada.

— Me fala sobre você. – Acrescentei assim que vi sua expressão. – Digo... O que você quiser falar é claro.

Inclinava o corpo para trás, esticando os braços e pernas para conseguir boiar de barriga para cima. Observava as estrelas enquanto esperava ele falar. É obvio que em pouco tempo estaria longe dele por causa da correnteza, então quando percebi que estava sendo puxado pelas ondas, segurei no braço dele, esperando que ele não se incomodasse.

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Eu estava usando a água como forma de evitar que ele percebesse a vermelhidão do meu rosto. Mas eu também não conseguia fazer um esforço maior para evitar que eu ficasse assim, mesmo tendo um dom natural para isso. Acho que sou uma quebra de protótipos. Demorei um pouco para responder a pergunta dele, primeiro pois eu pensei em logo dizer: não, eu não sinto frio, e segundo pois eliminei a primeira opção ao pensar direito.

“Um pouco.” respondi, meneando afirmativamente a cabeça.

E eu quase podia escutá-lo pensando. Talvez fossem seus olhos. Li em algum lugar que estes são as portas da alma, e acredito nisso. As ondas eram poucas e não estavam fortes naquela hora da noite, e o vento que fazia era reconfortante, embora eu tivesse meio que assumido que não o era ao dizer que estava com um pouco de frio. De qualquer forma, não previ que ele fosse perguntar de mim. "Me fale sobre você" era uma daquelas perguntas às quais não podemos fugir. Pois se dizemos que não há nada, estamos mentindo; se desviamos a atenção, instigamos a pessoa a acreditar que há algo que queremos esconder. Por fim, sobra dizer a verdade. Ao menos um pouco dela.

“Tudo bem. Mas fora daqui, ok?” disse, empurrando seu braço para o lado, para poder retornar à areia. E o fiz rapidamente. Mas não o fiz rudemente (ou ao menos esperava que não).

Então eu sentaria perto de nossas roupas, novamente com os joelhos na direção do peito, e o aguardaria sair de lá. Não estava mais tão incomodado por estar só com aquela roupa, mas mesmo assim tentei não me imaginar ali. Como um observador, no caso. Pois eu nunca fui disso, ou de me olhar no espelho. Quando ele chegasse, perguntaria:

“E o que você quer saber... mais exatamente?”

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Eu tinha feito a pergunta só por perguntar, não sabia o que falar aquela hora, mas aparentemente eu tinha acertado. Pelo menos era isso que eu achava. Olhei para ele quando ele disse que falaria fora da água e em seguida me empurrou. Levantei-me, já que estava boiando e comecei a andar de volta a onde estávamos sentados. Eu não pude deixar de perceber uma coisa quando saímos.

— Err...

Calei-me ao lembrar que ele era tímido. Como eu havia entrado na agua primeiro, não tinha visto a cor da sua roupa íntima, que agora estava levemente transparente, o que mostrava um pouco de suas partes. Perceber aquilo causou três reações em mim: A primeira, tive que dar um risinho baixo, provavelmente ele não tinha lembrado da cor de sua cueca, que por mais que houvesse as listras pretas, o branco era dominando. A segunda foi corar levemente o rosto por causa do motivo da terceira, que era basicamente o que acontece com todos os homens quando se sente atraído por alguém e tem a oportunidade de ver certas ‘paisagens’. Virei o rosto de lado para que ele não se sentisse mais acanhado e para disfarçar a reação de meu corpo. Andei um pouco mais rápido para que ele não percebesse o ocorrido e sentei-me assim que cheguei.

— Ah. O que você quiser e puder falar. Ou que achar que deve. – Olhei-o rapidamente. – Não quero obriga-lo a falar as coisas, só conhece-lo. Fala o que quiser.

Terminei com um sorriso de lado. Aproximei-me dele, ficando com o braço próximo ao dele. Abri a palma da mão e fiz com que uma chama alaranjada de tamanho mediano a envolvesse. O suficiente para deixar o ambiente próximo a ela, morno. Quem precisa de uma fogueira quando se já é uma?

ignorance is bliss.

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Ele me passou, chegando primeiro que eu no lugar onde estavam nossas roupas. Será que estava com frio? Não sei, mas tampouco pensaria nisso. Sentei-me ao seu lado, não tão perto, embora ele fosse cobrir essa distância logo. Eu sabia que ele não iria me pressionar a falar nada, mas estranhei o fato dele ter me olhado rapidamente, quase como se estivesse com vergonha de algo. Duas vezes, creio eu. Uma ao passar por mim, a outra ao falar comigo. Dei de ombros por não conseguir chegar à uma conclusão, e olhei para a chama que aparecera em sua mão por algum tempo, pensativo.

“Eu nasci em Madrid, mas eu e minha mãe nos mudamos de lá quando eu fiz sete anos.” comecei a contar, relembrando os fatos um a um. “De lá fomos para Chicago, onde fiquei até uns doze, quando descobri que era um semideus. Aí fui para São Francisco, e fiquei lá por algum tempo, treinando e afins.” respirei, fazendo uma pausa. “Ahn... eu tive alguns problemas quanto à conduta lá no acampamento, e acabei encontrando refúgio em uma deusa do "outro lado", Quione. Tornei-me seguidor dela e é isso. Aqui estou eu, agora.”

Bem, eu sabia que era uma versão bem resumida dos acontecidos, mas já dava para ele ter uma ideia. Eu não estava exatamente incomodado, e até sorria enquanto falava, mais por Charles que por mim, e cheguei a olhar para ele uma vez, para perguntar sobre a sua história, quando algo me veio a cabeça. Olhei para Charles, depois para mim. E olhei para a única peça que me diferenciava de semi para totalmente nu. E olhei para o filho de Héstia, com os olhos arregalados, e abri minha boca para falar algo, mas fiquei travado e não consegui dizer nada. Então olhei para o outro lado, com o rosto vermelho. Ele apressou o passo e me viu caminhando de frente, também...

Deuses.

Minha voz estava entrecortada e baixa quando eu falei.

“Eu não queria... eu não imaginava que...” e só então olhei para ele, ainda com os olhos surpresos, sem conseguir falar mais alguma coisa.

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Ele falou que treinava em São Francisco como se fosse algo tão comum. Por mais que eu soubesse que talvez fosse o filho de Héstia mais poderoso no momento, eu não tinha o costume de ir a São Francisco treinar, era muito arriscado. Provavelmente este treinamento dele deu uma vantagem a ele em relação ao seus outros irmãos. Claro, estou me referindo ao seu nível de poder, que como não tive nenhuma demonstração ainda, não podia julga-lo.

— São Francisco? Não era lá que era infestado de monstros. Nossa... Aguardo ansiosamente pelo dia em que poderei travar uma batalha com você, após saber disto.

Foi então que ele olhou assustado para mim, o que me fez corresponder da mesma forma. Seu olhar uma hora estava em mim e outra em sua roupa intima. Ele havia percebido o que tinha acontecido. Eu não pude deixar de ficar levemente corado, mas também não pude esconder a risada que dei. Ele havia ficado muito constrangido, não podia culpa-lo por aquilo, nem por o quanto ele ficava fofo todo vermelho. Ele tentou se explicar, mas eu não escutei, na verdade, eu tinha me perdido em seus olhos. Inclinei o rosto para frente e antes que ele pudesse terminar de falar algo, meus lábios já estavam encostados no dele.

Eu não sabia o motivo, só senti vontade de fazer aquilo. Não foi um beijo de verdade, estava mais para um selinho demorado já que apenas encaixei meus lábios nos dele. Afastei depois de um tempo, embora ainda permanecesse com o rosto um pouco próximo ao dele. Aquele movimento incontrolável me deixou bastante constrangido. O que eu estava pensando? Beijar o cara assim do nada. Mas eu não tive culpa, aquilo foi mais forte que eu. Afastei-me um pouco para o lado e virei o resto de lado para olhar para o lado, mais precisamente para minhas botas que estavam jogadas na areia.

— D-Desculpe-me.

and to be true with you.

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Batalhar comigo... Bem, eu costumo sempre evitar embates e afins, e os dons que ganhei de Quione me proporcionaram uma capacidade ainda maior de controlar a situação sem precisar matar ou ferir seriamente. Eu não compartilhava da mesma vontade de lutar contra ele.

E eu ia comentar sobre, mas então eu tinha percebido o que acontecera, e via que ele também estava vermelho, o que eu não sei dizer se era bom ou ruim, e então ele estava me beijando, e... eu me descobri querendo corresponder, ainda que estivesse atônito. Por fim, Charles se retraiu, também parecendo meio envergonhado, e começou a olhar para um ponto fixo na areia.

Eu não imaginava que ele fosse ficar envergonhado. Com nada. Mas essas foram primeiras impressões.

“Não se deve pedir desculpas por algo que você quis fazer.” disse, recitando um verso que li em algum lugar, quando ele pediu desculpas.

Pus uma mão em seu ombro, para fazê-lo olhar em minha direção, mas não o beijei. Só reuni coragem para falar com ele.

“Sabe, só foi abrupto. Eu não me sinto mal nem nada; na verdade...” então engoli em seco, sem ter coragem de falar o resto.

Gosto de pensar que não sou tão retraído - o que sou, na verdade. Mas naquele momento eu não estava querendo pensar em muita coisa. Até mesmo pensei em levantar e ir embora, não pelo que ele fez, mas sim porque eu me sentia controverso, entre feliz e hesitante. Respirei profundamente, olhei para cima e depois para ele. Quando fiz o pedido, o fiz baixo e com decisão no olhar. O que era estranho e, provavelmente, surpreendente. Para mim, digo.

“Mais um.”

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Abaixava a mão que estava em chamas, fazendo o fogo desaparecer. Como ele tinha dito, eu quis fazer aquilo. Eu não sabia o motivo, mas aquele garoto mexia comigo de uma forma diferente. Ele então tocou em meu ombro, o que me fez na mesma hora olhar para sua mão e em seguida, seus olhos. Olhos estes, que entravam em contraste com sua pele pálida. Prestava atenção em cada coisa que ele falava, tanto que me virei de frente para ele quando ele não terminou a frase, o que me deixou extremamente curioso. Ele ficou um tempo calado, olhou para cima e depois de volta a mim quando decidiu falar. Por mais que tenha sido baixo, eu estava próximo o suficiente para ouvir, até porque mal tinha barulho que atrapalhasse ali, a não ser o som do mar e do vento.

— Tem certeza?

Você já ficou se perguntando porquê disse certas coisas? Pois é, foi assim que fiquei ao ter dito aquilo, que foi automático. Mas que tipo de idiota pergunta ‘tem certeza?’ depois que recebe um pedido de beijo? Para não parecer mais ridículo ficar ali parado, nem esperei que ele respondesse, levei a mão esquerda até a sua nuca, entrelaçando meus dedos em alguns fios de seu cabelo, e o puxei contra mim enquanto levava meus lábios de encontro aos dele. Eu já estava de olhos fechados quando ambos se tocaram. Eu me ajeitei, aproximando-me mais dele, sem parar o beijo, que desta vez não foi parado como o primeiro, mas sim com uma movimentação devagar com as línguas. Entrelaçando-as.

Eu sabia o que ele estava sentindo, afinal tinha este dom, mas eu também queria que ele sentisse como eu me sentia, que percebesse como eu estava. E eu podia fazer aquilo. Levei a outra mão até a sua cintura, que por mais que estivesse sentado estava fácil de alcançar e o aproximei de mim enquanto intensificava um pouco mais o beijo. Naquele momento usava uma de minhas habilidades que me permitia através do toque (neste caso o beijo) fazer com que a outra pessoa sentisse o que eu sentia. Que no momento não era algo apenas de felicidade, mas de proteção e calmaria, coisa que eu não sentia há muito tempo.

Inconscientemente dei um sorriso durante o beijo, enquanto apertava levemente a sua nuca com a mão que ainda estava lá. Durante o beijo, meu corpo ficava cada vez mais quente. Não digo isso só no sentido figurado da palavra, relacionado a reação de dois corpos que se atraem estarem bem próximos e com movimentação em um beijo, o que causaria o enrijecimento de partes intimas. Mas também, no sentido literal da palavra, já que como filho de Héstia, era de minha natureza ter a pele um pouco mais quente comparada aos outros.

and to be true with you.

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Eu não poderia dizer outra coisa que não "wow". Porque era com uma expressão dessas que eu estaria se já não estivesse tão ocupado, com as minhas mãos em Charles, com a minha boca na dele, tentando corresponder com tanta vivacidade quanto ele. E eu evitei dar um risinho quando ele perguntou se eu tinha certeza, pois talvez eu fosse capaz de fazer o mesmo se estivesse em seu lugar, devido a minha ignorância em tal área.

Não podia esconder o fato de que eu gostava da forma como aconteceu e da forma como se desenrolou. O segundo beijo, no caso. Pois eu estava de olhos fechados, e mesmo assim conseguia sentir toda a dinamicidade dos aspectos envolvidos em um simples ato. E eu não tentei assumir um papel que claramente não era meu - o de iniciar as coisas, o de dar começo a correspondências quase furiosas de tanto que gostávamos. Eu não imaginava que seria assim até o momento.

Eu podia sentir que ele gostava, pois ele me fazia sentir isso. Um dom próprio, provavelmente. E se ele podia fazer isso, não imagino o porque de não poder sentir o que eu sentia. À proteção e calma tudo se resumia. Quer dizer, não exatamente, já que havia uma clara atração por parte de ambos, mas aqueles dois aspectos eram as máximas do que acontecia ali.

Sua pele era quente, e ficava cada vez mais, o que não chegava a me incomodar. Na verdade, me aconchegava naquele calor latente que eu há tanto esquecera; amor ao qual me desacostumei ao me tornar Coração e abandonar tudo para trás. Por fim, separava nossas bocas não sem muito esforço, para virar-me e inclinar-me sobre ele, à despeito de qualquer coisa, para encostar minha testa na junção de seu pescoço ao ombro esquerdo.

Tentava respirar e, ao mesmo tempo, senti-lo.

“Eu...” comecei a dizer, buscando as palavras. Passado alguns momentos d'eu encostado no pescoço dele, me afastei um pouco para poder encará-lo, que por minha culpa estava com as costas na areia, e livrei-me de suas mãos também com grande esforço. E eu estava sob seu abdômen, mas onde estaria o eu consciente de não fazer tais coisas? Ah é, ele tinha se perdido no primeiro beijo. “Obrigado por isso.”