najbfjal a

Insônia, é o que mais a loira vem sentindo ultimamente, dormir tem sido um problema, não por conta dos seus irmãos de chalé, mas sim porque sua mente fica vagando por lembranças inúteis. Allie precisava esparecer, tentar ao menos esquecer as lembranças, como em um estalo calçou as pantufas de coruja que estava ao pé da cama, com receio de estar frio do lado de fora segurou a jaqueta clara que estava na cabeceira da cama em suas mãos.  Se retirou do chalé com a maior cautela possível, não queria que nenhum monitor a visse vagando pela noite.

Era uma noite de clima agradável, o luar estava iluminando basicamente toda a floresta. Era de se admitir que a garota ainda não estava acostumada com essa história toda de deuses gregos ser verdade, não acreditava na mísera parte daquilo tudo, mas a verdade é que estava ali, em um lugar para semideuses, sendo reclamada pela deusa da sabedoria. Com os braços cruzados se pôs a caminhar, não conhecia metade do acampamento ainda, e pelo andar da carruagem o conheceria em pouco tempo.  Seus cabelos loiros ricocheteavam com uma brisa favorável aquele caminho percorrido, e lá estava Allie da mesma forma como de costume, andando como uma desavisada, percorrendo caminhos que tão pouco conhecia.

O céu salpicado de estrelas a fazia vez ou outra parar e observa-lo. Sofrer de insônia tem um bando de desvantagens, mas uma hora ou outra acaba encontrando algumas - poucas - vantagens, como agora, tinha a oportunidade de perambular à vontade pelo acampamento sem esbarrar em alguma mocinha de Afrodite do tipo “não me toque”. Nem ao menos sabia se era permitido andar por ai no período noturno. Mas tanto faz, não me crucificaria por quebrar uma regra dentre tantas que sigo a risca. A loira sentiu sua barriga roncar. - Isso que acontece por perder a hora lendo. - Revirou os olhos ao lembrar que só comera alguns morangos durante o dia. Respirou com os olhos fechados quando sentiu a maresia a encontrar, colocou a jaqueta ao sentir o clima mudar, mesmo assim o short curto com brilhos fazia o vento arrepiar-lhe as pernas. Allie sentou-se na areia admirando o mar a sua frente, tentando, inutilmente, conter seus cabelos bagunçados.

Sabe quando se está tão absorta em pensamentos que o mundo a sua volta parece não mais existir? Então, era bem assim que a jovem Alicia se encontrava, o som do mar era como música a seus ouvidos. Retirou as pantufas as colocando de lado, dobrando os joelhos trouxe-os próximo ao corpo, uma tentativa de se encolher do vento, do mundo, da vida. Andar sozinha a noite talvez não fosse normal para a maioria dos campistas, mas por sorte Allie não me encaixava nesta descrição, era sempre preferível fazer as coisas por impulso, seguir a simples regrinha de agir primeiro e pensar depois. Algo talvez incomum para uma filha de Athena, mas chega um momento da vida em que nem sempre o normal é o melhor, ser a certinha nem sempre é o mais favorável. E qual seria o problema em quebrar uma ou duas regras bobas?

Allie brincava com os pés afundados na areia, vez ou outra os puxava rápido para ver a areia saltar. Sorria como uma criança brincando com os pais em um dia ensolarado. Pais... Sentia falta de seu pai, o fato de basicamente a partir desse ano morar no acampamento a desconfortava, um desconforto por sentir falta dos dias de passeio em Paris, ou até mesmo simplesmente estar com seu pai em frente ao jardim. Coisas que não seriam feitas nem tão cedo, a pequena garota tinha total certeza de que não poderia voltar para sua antiga vida, preservava a vida dos seus amados antes mesmo da sua própria.

- MÈRE FILLE, QUI VEUT GAGNER ! - Praguejou em francês saltando do local em que estava sentava, pondo-se de pé. Allie meneou a cabeça franzindo o cenho, tentando reconhecer a figura mórbida que transmitia um cheiro de nicotina. - Elli? - Arregalou os olhos juntando as peças, o tipo de corpo, a voz, os cabelos mesmo que desgrenhados... Era a sua velha amiga, mas como assim? Como ela poderia estar aqui? E, e fumando? - O que está fazendo aqui? E porque você está fumando? - Berrou na última frase, indignada com o fato da menina que tanto amava estar se destruindo aos poucos. Em um impulso, esbofeteou a mão da garota em que continha o cigarro, deixando-o cair para longe de Elliot. Talvez uma medida estrema demais, mas o fato é que Alicia estava cansada de cuidar de todos que amava e mesmo assim os ver se destruírem, acabando por levá-la junto. Respirou fundo, encarando a menina, esperava uma boa explicação.

Era engraçado a forma com que um fumante justificava seu hábito quando perguntado o porquê dele. Sempre as mesmas respostas. “Diminui meu estresse”, “Me ajuda a pensar”, ou “Me acalma”. Rolou os olhos, Allie conhecia bem Elliot, mas não essa Elliot, a antiga. A que demonstrava afeição mesmo que pouca, a que conseguia fazer um coração solitário disparar descompassadamente, mas aquela que esta a sua frente não. Lhe causava preocupação, medo, dor. Um turbilhão de sentimentos confusos que tão pouco a loira conseguia expressa-los. - Claro, ficaremos super tranquilos quando você precisar de um transplante de pulmão. - Respirou fundo, dando de ombros. Não queria pensar naquilo nesse momento, tão pouco pensar em como conseguir muda-la.

Mudar... Algo incrivelmente fácil para uns, e completamente difícil para outros. Alicia conhecera Elliot a algum tempo atrás, se tornaram inseparáveis por um tempo, até uma briga sem sentido as separar. A verdade é que durante a maioria das vezes elas se amavam, se amavam como amantes. Algo que mudou quando e ela não sabia exatamente quando aquilo havia começado. Mas, sabia que, a medida que o tempo passava, o afastamento tornou-se inevitável. Até agora. Até aquele momento. Qual não foi uma surpresa ao ver a garota que amava daquela maneira? Parecia até que Elliot havia perdido parte daquele brilho que a loira tanto adorava.

O ar de repente se tornou tão pesado que chegava a ser difícil respirar, ou talvez fosse apenas o coração de Allie querendo parar de lutar. Mas as palavras de Elliot eram tão cortantes, que conter o que sentia nunca foi tão correto. Lutar contra toda a dor escondida. Cruzou os braços, se encolhendo da brisa que passara ali. Olhou para o céu, mirando o luar radiante que iluminava a praia. - Insônia, solidão... Precisava tomar um ar, às vezes esse lugar me tira do sério. - Deu de ombros, fechando os olhos por algum instante, respirando fundo aquela maresia. - A quanto tempo não te vejo... - Soltou as palavras em sussurros, não se sabe ao certo se apenas um pensamento alto foi, ou um desabafo.