[Oceano Atlântico] - A Grande Cruzada - Trama Musical

It’s where my demons hide...

A Grande Embarcação

Assim que recebi o comunicado, tratei de trocar de roupa. Peguei minha mochila e joguei meus pertences dentro, sem nenhuma organização. Depois que eu estivesse no barco poderia conferir o que realmente havia levado e organizar o que havia dentro da mochila. Passei pelo espelho e ajeitei meu cabelo. Parei um pouco pra imaginar a dimensão desta missão. Fui nomeado um dos líderes e isso me deixava um pouco preocupado. Já era difícil me comprometer em me manter seguro, eu ainda teria que me preocupar em cuidar dos outros corações. Porém, eu poderia dividir um pouco essa responsabilidade com o Clark. Não tenho quase nenhum contato com ele, nem com nenhum outro coração na verdade. Pra ser sincero eu não sei se isso é característica dos seguidores de Quione, mas todos nós parecemos ter certo congelamento em nossos sentimentos e acabamos nos tornando pessoas frias para socializar.

Acho que fui escolhido para ser um dos líderes, pelo fato de já ter um conhecimento sobre a Estátua de Gelo. Alguns meses atrás eu encontrei uns Corações mais experientes e eles me informaram sigilosamente sobre o raro item de Quione. Não sei qual a sua utilidade ou função, mas a Deus estava bem preocupada por ter perdido sua preciosa estátua. Tratei de parar de ta racionalizando essas coisas e resolvi agir. Deixei o Chalé de Deméter e assobiei na direção da floresta. O céu ainda estava claro e o sol estava começando a se por. Pouco depois meu morcego gigante surgiu e voou ao meu encontro, me seguindo enquanto eu já começava a caminhar na direção da praia. Acelerei meus passos, quase correndo. Tinha bastante tempo ainda, mas eu estava sendo consumido por uma ansiedade avassaladora.

Fui o primeiro a chegar e logo pude observar cada um que se aproximava depois de mim. Eu não os conhecia, com exceção do Clark. Abri um largo sorriso, inicialmente um pouco falso porque acabei forçando demais. Um dos novatos me chamou a atenção, quase perdi todo o meu rumo, além de quase começar a gaguejar. Ele me olhou e sorriu quando percebeu que eu estava olhando para ele. Corei imediatamente, mas tentei disfarçar, olhando na direção dos outros. Um arrepio percorreu meu corpo, como se fosse possível eu sentir um pequeno friozinho... Mas eram borboletas embrulhando meu estômago. Os convidei então a entrar, ainda meio gaguejante e dei sinal para meu morcego pousar no mastro do navio, onde ficara atento ao meu chamado. Aproximei-me do leme e informei ao capitão que ele poderia iniciar a viagem. Aos poucos a embarcação ia se afastando da praia do acampamento e fiquei um pouco enjoado. Não é muito bom afastar um filho de Deméter da terra. Tentei me controlar e fui me apresentar para os outros Corações.

- Olá, Semideuses. – falei logo depois de me aproximar. – Sou Ethan, Filho de Deméter. Estou aqui para guiá-los em uma missão de extremo perigo.

Se eu estava com medo? Sim, muito medo. Sem contar toda a responsabilidade que estava sendo depositada em meus ombros. Tentei relaxá-los e lhes informei sobre o nosso roteiro. Eles já estavam cientes que a velocidade do barco era muito superior a embarcações comuns. Era uma viagem longa e levaria muitos dias para chegar lá em condições normais. Angra do Heróismo, nome bem sugestivo para nós, estava muito pra lá do Oceano Atlântico. Iríamos nos aproximar bastante da Europa e não teríamos muito tempo para isso. Então, com este barco, em no máximo três dias estaríamos chegando ao nosso destino. Tenho uma leve impressão de que muito irá acontecer daqui pra lá e esse muito envolve monstros. Ainda tenho um leve pressentimento que alguém irá morrer, não sei por que. Informo tudo isso a eles, até mesmo meus pressentimentos. Não queria manter segredo com nenhum deles. Segredos de missão, claro.

- Bem Vindos ao Rest in Peace... É esse mesmo o nome, Jared? – questionei o capitão.

- Sim, muito sugestivo não? – ele soltou uma gargalhada um tanto sinistra e eu lhe olhei com cara de “pokerface”.

- Bom, podem se dirigir aos seus aposentos, na parte de baixo do barco.

Existe uma cabine (com suíte) para cada um de nós, além de uma pequena sala de estar e uma cozinha. O Barco não era tão grande, pelo menos por fora. Por incrível que pareça, dentro era muito espaçoso e extremamente confortável. Eles poderiam pro suas coisas em seus aposentos e descansar ou fazer o que desejarem. A viagem só tinha acabado de começar e se fosse necessário eles seriam chamados. Era hora também de se certificar sobre os pertences que haviam escolhido para a missão, também é um momento muito oportuno para se conhecerem. Clark, como o mais experiente de todos, poderia mostrar o que é ser um Coração de Neve. Quando enfim chegassem a suas cabines, haveria um pequeno bilhete para cada um deles, com a seguinte mensagem.

“ Nos encontrem no convés, quando a meia noite chegar”

thanks juuub's @ cp!

The lights already burning...

A Benção da Canção e da Tragédia

A partir de agora eu não tinha mais muitas informações adicionais, eu não sabia o que Elas queriam conosco essa noite. De agora em diante eu pouco saberia sobre nossa missão e iria descobrindo junto com os outros semideuses. Eu iria me sentir um pouco desconfortável com isso, afinal eles precisavam me enxergar como líder e pra isso necessito passar confiança. Bom, isso é algo um pouco complicado para mim. Deito na cama, na minha cabine, parando para pensar um pouco nas últimas horas. Quione havia me escolhido para liderar uma missão de suma importância para ela e havia deixado o Clark de lado por algum motivo que ela não quis me informar. Segundo suas próprias palavras, o Filho de Afrodite tem papel importante na conclusão com êxito ou não, da nossa missão. Por isso ele não poderia liderar e nem muito menos ter conhecimento dos detalhes. Claro que eu não informaria isso a ele, para que ele não fique especulando e isso acabe atrapalhando seu desempenho.

A imagem mudou, em meus pensamentos. Agora eu estava de frente a uma bifurcação, que me levariam a duas estradas. Uma delas era tortuosa, cheia de espinhos e muito sombria. De longe eu podia sentir um frio vindo dessa direção, além de um medo persuasivo o bastante para me fazer escolher executar as piores ações possíveis. O Outro caminho, esse era sim muito agradável, estava muito mais atrativo. Era ensolarado e algumas borboletas voavam por entre as flores e havia um clima pacífico e acolhedor. Fui obrigado a escolher e claro, eu não escolheria o caminho no qual me rememorava o meu passado. O Caminho sombrio e tortuoso eu jamais escolheria novamente. Em pensamentos, comecei a caminhar na direção do caminho da luz, quando me deparo com dois garotos. Eu não os conhecia, até a pouco tempo. Um deles era o filho de Érebo, também Coração de Neve. O outro... Também estava nessa missão. Mas este não chamou minha atençã. Por que eu estou vendo-o em meus pensamentos, no caminho mais claro para a minha vida? Eu teria que escolher entre eles dois, por alguma razão. Algo me diz que um envolve o amor e o outro a dor.

Levanto-me imediatamente e percebo que eu não estava apenas pensando, era um sonho muito real. As horas haviam passado e eu me apresso em trocar de roupa, pois a noite deveria estar fria lá fora. Subo as escadarias para o convés e vejo que sou o último a chegar, porém ainda antes da hora. A luz da lua iluminou meu cabelo loiro e meus olhos também pareciam preenchidos de luz. Encostei-me no mastro e confirmei se o Bruce, meu morcego gigante, ainda estava lá em cima. O Vento parou por alguns segundos e um doce aroma tomou conta do ar. Uma doce e suave canção era audível para todos nós, pois nos entreolhamos assim que ela começou. Não era uma canção feliz, pois me trouxe muitas lembranças ruins e tristes. Porém era uma canção que me confortou de certa forma. De repente duas silhuetas começaram a se formar, a partir de um ponto de luz próximo a nós. E lá estavam elas, as Musas da Música e da Tragédia. Melpomene e Eutérpe vieram nos encontrar, assim como o bilhete anunciava.

– Não temos muito tempo, só viemos mesmo para abençoá-los. – uma delas usou a minha boca para falar. Acredito que suas vozes teriam encanto demais e isso poderia nos afetar. – Usem nossos tesouros e, por favor, nos tragam os ramos.

Um brilho forte nos forçou a abrir as mãos e de repente havia um presente para cada um de nós. Em minhas mãos havia um colar, com pingente de máscara. Nas mãos do filho de Afrodite estava um pequeno instrumento azul, que se assemelhava a uma flauta gordinha. Acho que era uma ocarina. Nas mãos do filho de Hermes estava outro colar, mas seu pingente era diferente do meu. E por último, com o filho de Érebo, estavam duas baquetas. Eu não sabia muito bem o que estes itens poderiam fazer, mais aparentavam ser muito poderosos. Coloquei meu colar em meu pescoço e voltei minha atenção novamente para as musas.

– Estes são seus presentes, abençoados por nós. – agora era a outra musa, pois senti diferença no modo de usar minha voz. – Ainda há uma Harpa para cada um de vocês, em seus quartos. Usem de forma sábia.

E assim desapareceram, deixando o brilho de seus corpos nos preencherem. E ficamos assim, um olhando para a cara do outro, todos purpurinados abaixo da luz da lua. Não precisei dizer mais nada, a noite havia terminado e precisávamos descansar. Sorri ao passar pelo filho de Érebo, eu ainda não sabia seu nome, mas não consegui formular nenhuma frase a ser dita. Ele mexeu comigo e isso estava derrubando todas as minhas defesas e me desarmando. Sorri novamente, minhas mãos começaram a ficar trêmulas. Eu iria fazer a primeira vigia, então estava ai um motivo para puxar assunto...

– Hey, você! – tentei chamar a atenção dele. – Preciso de alguém aqui na patrulha comigo, mas você dormirá enquanto faço o primeiro turno.

Não esperei qualquer indagação ou questionamento. Tentei parecer o mais confiante possível em minhas palavras para que soasse como uma ordem e não um pedido. Eu o queria ali fora comigo, precisava confirmar o que estava acontecendo e nem consigo por isso em palavras. E, assentiu então e se sentou em uma cadeira bem confortável do convés e depois de um tempo trocando olhares, ele pegou no sono. Fiquei a observá-lo, enquanto minha mente fervilhava de interpretações sobre o momento. A Noite então ia passando calmamente.

thanks juuub's @ cp!