— {Noturno} The Friendship.

Noturno

Ergueu o filhote e o colocou sobre a mureta, pulando-a então.
— Vem, vem. — sussurrou ao pequenino, que saltou ao chão e ganhou um carinho entre as sobrancelhas. — Muito bem...
Já no meio da arena, Logan se espreguiçou e bocejou enquanto Noturno cheirava as armaduras deixadas para trás.
— Não, não. Vem.
Se ele sabia que era proibido estar ali àquela hora? É claro. Se ele se preocupava? Hm, não muito.
Deixara o reconforto de seu colchão há pouco, saíra sorrateiramente do chalé e passara pelas harpias da limpeza escondendo-se nas sombras.
Ele sabia que se fosse pego enfrentaria as consequências e tudo isso, mas não sabia também que aquele era o melhor horário para treinar seu puma, pois tinha certeza que uma arena superlotada distrai-lo-ia. Assim, em completo silêncio, contaria com sua total atenção e preveniria surtos neuróticos de “we, correr, babar, tropeçar, correr, we”.
Tirou a mochila dos ombros e a repousou no chão, vasculhando lá dentro. Como era de se esperar, a criança fungou ao redor, porque obviamente estava sentindo o cheiro de…
— A-há, aqui! — vibrou o jovem, pegando um saco de petiscos de leite que uma filha de Hermes arranjara especialmente para si.
Levantou a sacola a uma distância segura do outro e arqueou as sobrancelhas, sem saber por onde começar. Lembrou-se de quando tivera um cãozinho – de raça da qual esquecera o nome – e do curso de sábado que fizera por um mês quase. Não que ele se lembrasse de todas as dicas de cabeça, mas já era um início.
“A briga tem que ser no ato”, recordou-se, se lembrando da fala do adestrador. “Vocês precisam entender que o cachorro não vai entender que não é pra fazer xixi no chão se vocês brigam com ele duas ou três horas depois disso. Logo que ocorrer, devem chamar a atenção para que ele não faça isso novamente.”
Não era bem um comando ou coisa do gênero, mas já ajudava no entendimento.
Bem, precisava escolher algum e, por isso, escolheu o mais básico:
— Senta! — e como era de se imaginar, não funcionou.
“Vocês devem sempre, em primeiro lugar, mostrar a guloseima ao seu cachorro. Sendo recompensado, ele absorve mais fácil o comando.”
— Aqui, cheira, cheira. — incitou, segurando a comidinha entre os dedos para que Noturno percebesse o que aconteceria.
“O sentar é fácil”, repassou. “É só colocar o petisco atrás da cabeça do animal, meio no pescoço, porque a única forma dele pegá-lo será sentando.”
E assim ele fez, ajoelhando-se e colocando o biscoitinho meio na nuca do quadrúpede, que fungou o ar e então se sentou, contorcendo a cabeça para pegar o prêmio.
— Aê, coisinha! — festejou, acariciando-o e bagunçando seu pelo.
“Repetição é fundamental”, ia se lembrando, enquanto repetia os movimentos. “Pra testar se ele aprendeu, é só fazer sem o petisco umas duas ou três vezes.”
Depois de um tempo, Logan só botou a mão dentro do saquinho e fingiu pegar algo. Colocou a mão no início da coluna do puma e, quando este se virou, abriu-a, revelando um vazio. Para compensar, fez mais festa e carinho que anteriormente, até que Noturno pareceu entender o “sentar” sem esperar nada em troca.
“O deitar só pode ser ensinado após o sentar, porque é da posição do sentar que vocês devem partir.”
— Senta! — e o animal obedeceu.
“Da posição sentar, vocês devem tirar o petisco da nuca do cão e trazê-lo para frente, apoiado no chão”, ressoou enquanto o filhote cheirava intrigado a mão em concha junta ao chão do seu mestre. “Então, puxar o petisco para vocês, porque o cão vai começar a se inclinar, até se deitar”, que é quando Logan tirou a mão e recompensou seu companheiro. “Ah, e claro, lembrem-se de gritar ‘deitar!’ ao terminar.”
— Deita!

Mais uma hora, uma e meia, se passou até que Noturno pegasse, além do ‘sentar’ e ‘deitar’, o ‘aqui’ e o ‘fica’. Agora era um mais difícil, pois as lições de Logan com o seu antigo animal de estimação só fora até ali.
“Bem, é só seguir a ideia dos outros…”, imaginou e franziu o cenho, pensando no que ensinar agora.
Pescando uma guloseima do saco – que já estava bem mais vazio – com a mão esquerda, o Montecarlo ficou de pé e começou a andar.
— Junto! — ordenou e caminhou dez passos com o “protótipo de gente” ao seu lado. — Muito bem, coisinha! — comemorou e se jogou no chão com o mascote.
Seguiu-se, após as repetições, um combo:
— Senta! — gritou. — Deita! — emendou, afastando-se lentamente. — Fica! — ordenou, contando até dez mentalmente. — Aqui! — e arrumou suas coisas, caminhando para a saída. — Junto!
Tudo estava dando certo, até que...
— NÃO, AQUI NÃO! Por favor! — e o líquido amarelo escorreu. — Poxa, coisinha, não podia esperar?

Observações